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ou garantias divinas, ainda como submetido às exigências da própria condição
de ser humano, submetido às demandas carnais, onde toda a potencialidade
humana reside em aceitar esta própria condição, ao contrário do que preconizam
os ideais ascéticos.
A DEPRESSÃO COMO MAL-ESTAR CONTEMPORÂNEO 93
Por que suportar e aceitar tal pesar em um mundo em que as mais
altas tecnologias medicamentosas garantem a reabilitação dos indiví-
duos ante as expectativas e imposições sociais?
O sujeito da atualidade definitivamente foi educado e (des)prepa-
rado para o sofrer enquanto processo e condição humana, demasiada
humana. Antes, aprendeu a significar seu próprio pesar existencial
como dor, internalizando uma condição que é necessariamente si-
nônima de doença e que, como tal, deve ser remediada o quanto for
necessário ad infinitum.
A instrumentalização do corpo pela medicalização e pelo naturismo
encontra então o seu canteiro de obras, na medida em que se inscreve aqui
a matéria-prima para a disseminação dos discursos sobre a saúde. Pode-
se compreender como a psicanálise se encontra num impasse quando se
pressupõe um modelo alteritário de subjetividade, no qual os indivíduos
sofrentes possam dirigir ao outro sua demanda. Em contrapartida, a
psiquiatria biológica pode florescer, já que com os psicofármacos podem
fazer o curto-circuito do sofrimento e atender diretamente aos reclamos
da dor, sem qualquer apelo. A animalidade dolorida pode ser atendida
sem pedir nada, no jardim das delícias promovido pela medicalização da
dor. (idem, p.192)
Toda a medicalização da dor implica, necessariamente, que o su-
jeito abdique de todos os laços sociais no que tange ao seu sofrimento,
pois uma vez medicado, não se caracteriza a necessidade de formular
demandas a um outro sobre seu próprio sofrer. O que está em questão
não é jamais a construção de sentido sobre sua condição sentido este
baseado em um encontro entre duas pessoas que se abrem às novidades
apresentadas como fruto de um trabalho psicanalítico. A priorida-
de e a meta a ser atingida é silenciar essa dimensão do não sentido,
substituindo-a por sensações artificiais produzidas quimicamente,
alterando-se os humores e maquiando pouco a pouco essa fala que
clama por reconhecimento e elaboração.
É notável como esse dinamismo próprio do sujeito contempo-
râneo isola-o em seu sofrimento, fazendo-o, além de total e único
responsável por seus males , também um sujeito amesquinhado em
94 LEANDRO ANSELMO TODESQUI TAVARES
toda sua covardia subjetiva existencial legitimada por toda a lógica
dominante: essa que dita as maneiras e estratégias de promover o
bem-estar próprio na atualidade.
Uma sociedade em que os homens concebem sua vida psíquica se-
gundo o modelo do distúrbio e da cura neuroquímica (ainda que não se
possa negar a importância da psicofarmacologia no auxílio ao tratamento
das formas extremas de sofrimento psíquico) é uma sociedade em que as
condições do laço social não convocam os sujeitos a fazer do pensamento
um auxílio para a mediação de suas relações e na negociação de suas dife-
renças. Ao empobrecimento do pensamento correspondem, de um lado,
a violência; de outro, a depressão. (Kehl, 2002, p.79)
Os ditos ou classificados como depressivos sofrem de uma espécie
legítima de mal-estar , ainda que este não seja especificamente da
ordem do patológico. Legítimo no sentido de que, para nossa escuta
analítica, o interesse está sempre voltado para a outra coisa da qual nos
falam os pacientes. Basta sabermos que algo acontece no sujeito e que
lhe escapa à compreensão, sendo por isso mesmo que lhe foram neces-
sárias as formações de sintomas como expressão de sua verdade velada.
Ademais, sobre as classificações e nosografias psiquiátricas, com seus
diagnósticos de psicopatologias e suas subdivisões que esquadrinham
e esquartejam a subjetividade, a psicanálise nos legou um saber que
pressupõe que o Sujeito (com S maiúsculo indicando sua constituição
psíquica e inconsciente) é definido essencialmente pelo conflito.
Posto isso, quem ainda caminha sobre a Terra como um ser ple-
namente vivente, quem, enfim, estaria livre dos pesares, dissabores e
da própria dor de existir?
Lembremo-nos: esse animal, dito ser humano, simbolicamente
constituído, forjado sob o véu da linguagem, é, justamente devido
a isso, um ser de desejo. Eis a precondição de uma existência sempre
fadada ao conflito, ainda que este possa ser amenizado por infinitos
subterfúgios de nosso admirável mundo.
A legitimidade desse mal-estar vivenciado pelos depressivos
pode ser assim reconhecida e aceita na medida em que o próprio sujeito
A DEPRESSÃO COMO MAL-ESTAR CONTEMPORÂNEO 95
permite-se reconsiderar todo o discurso que o perpassa e o qual ele
próprio aprendeu a enunciar, ou seja, questionar toda a classificação
e patologização da qual ele é alvo, quando formulado um diagnóstico
que o assujeita, e, principalmente, questionar a si próprio e sua identi-
ficação com o ser depressivo nos dias atuais. Estamos nos referindo
aqui ao próprio dispositivo clínico das psicoterapias, particularmente
as psicanalíticas, as quais visam desalienar o indivíduo dessa condição
impostamente patológica e de suas identificações com os saberes/práti-
cas sociais, sejam eles acadêmicos, científicos ou mesmo internalizados
pelo senso comum.
Com base em nossa experiência profissional, podemos perceber como
é difícil conseguir desestabilizar as certezas dos pacientes com relação
ao seu sofrimento. Nem sempre o paciente que nos chega, plenamente
identificado com seu diagnóstico, está preparado para o trabalho psi-
coterapêutico. É bem verdade que é nossa tarefa, por meio das etapas
preliminares da psicoterapia, constituir uma relação de confiança e, desde
o primeiro momento, ainda que em doses homeopáticas , plantar a
preciosa dúvida na subjetividade do paciente, esta relacionada ao discurso
que ele mesmo representa para si e para os outros sobre seu sofrer. Con-
tudo, como nos ensina nossa própria vivência profissional, nem todos
estão dispostos a arriscar-se a abandonar suas certezas e convicções sobre
si e sobre seu sofrer, afinal, para isto implica-se novamente a questão
fatídica do desejo, especificamente o desejo de análise.
Esses pacientes, infelizmente, tornam-se pessoas que, ainda que
vivam plena e satisfatoriamente (não sem a ajuda contínua de medi-
camentos!), não são capazes de desfrutar da possibilidade de, enfim,
tornarem-se Sujeito propriamente dito. Sujeito de sua própria história
e dos avatares de seu existir, implicando a capacidade de desejar como
sujeito, subjetivando a própria castração e incompletude, em suma,
deslocando-se para o lugar de causa de si, reconhecendo-se como ser
de desejo e, por isso, faltante. Na fortaleza de suas certezas erguida
com anos de sintomas e repetições, eles permanecerão assujeitados
ao saber do outro, podendo então, no máximo, continuar a sempre
demandar, o que significa que se espera esse saber que não se sabe
sobre si desse grande outro.
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A demanda está sempre aquém do desejo. Na medida em que é
insatisfeita, gera angústia, e, em nossos dias, também a depressão ,
se satisfeita, suprime o desejo. Especificamente a demanda de cura ,
a qual nos endereça os pacientes, deve ser redirecionada ao sujeito no
sentido de localizá-lo em sua própria trama de significações essa é nossa
tarefa inicial. A demanda de saber que obtém facilmente aquilo que
quer, ou seja, um saber sobre si , porém como uma satisfação que o
outro me dá em uma relação transferencial (como no caso das consultas
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